terça-feira, 25 de novembro de 2008

A aventura de ser Director Técnico

Comecei a minha aventura como Director Técnico de uma IPSS em 1999, dois anos após concluir a licenciatura de Educação Social. Tive a sorte e o privilégio de trabalhar numa instituição que tinha várias valências (Creche familiar, pré-escolar, CATL, SAD e Lar de idosos) o que me permitiu conhecer as várias vertentes da acção social. Também tive a felicidade de trabalhar lado-a-lado com a chefe de secretária, que era uma pessoa com muitos anos de experiência, e que me ajudou muito no início.

Não posso dizer que os primeiros dias foram de pânico porque já tinha alguma experiência em gerir equipas e organização, mas foram de algum receio e ansiedade. Considero que o trabalho de DT é complicado por três motivos:
1 – Está “encravado” entre a Direcção e os funcionários, por vezes é encarado pela direcção como o “sindicalista de serviço” e pelos funcionários como o “moço de recados” da direcção. Esta situação é delicada e exige muita diplomacia e bom senso. Passei algumas situações complicadas, ou porque a Direcção pedia-me que “esquecesse” alguns dos direitos dos funcionários ou porque estes se “esqueciam” dos seus deveres. Por vezes tive que tomar parte por um dos lados, e foi quase sempre o lado dos funcionários o que me trouxe alguns dissabores.
2 – É um trabalho solitário. Na maioria das instituições que eu conheço a equipa técnica (?) era composta por eu, eu e mais eu. Ou seja só há um técnico superior, o que torna a tarefa, já por si complicada, ainda mais difícil. Mesmo a minha ex-instituição que tinha 55 funcionários eu era o único técnico superior, exceptuando as educadores de infância. Senti-me muitas vezes sozinho nas tomadas de decisões mais difíceis, apesar de ter um bom grupo de trabalho com as coordenadoras das várias valências. A direcção nem sempre me dava as respostas que eu procurava ou demorava muito tempo a decidir.
3 – Ausência de “estatuto”. Não há um perfil ou uma categoria para o DT. O que na prática significa que nas funções, vencimentos e autonomia o DT está completamente dependente da Direcção. O que é curioso é que a lei [DN 12/98 dos lares (norma IX, ponto1) e
DN 62/99 (norma X, ponto1) do SAD] exige um DT na direcção técnica, mas o Contracto Colectivo de Trabalho para as IPSS esquece-se de incluir essa categoria! Mas voltarei a esse assunto mais tarde.
Considero o tempo que fui DT como uma aventura. Uma aventura de crescimento pessoal e profissional e de desenvolvimento e expansão da instituição. Foi uma altura para construir relações pessoais e profissionais, que no fundo são a chave para o sucesso ou insucesso na direcção técnica de uma IPSS.
Posso dizer que apesar dos problemas que existem sempre, que adorei ser DT. Acho que o poder que o DT tem para fazer o bem e ajudar as pessoas (comunidade, funcionários, utentes, famílias) é claramente superior aos obstáculos que enfrenta.

13 comentários:

Marcela disse...

Dr.Luis Jacob
Toda esta reflexão em torno da categoria de director técnico reflecte bem o que neste momento me encontro a vivenciar como directora técnica e assistente social.
Muito obrigado pelas suas palavras sábias...
Marcela Teixeira

cruzpeixoto disse...

Boa noite Dr. Luís Jacob!
Nem calcula como me identifico com suas palavras… A única diferença é que sou licenciada em Psicologia e experiência em gerir equipas não tinha nenhuma, nem encontrei muita ajuda… mas com alguns bom senso, persistência e procura de formação complementar na área fui desenvolvendo algumas competências e ainda me encontro a fazê-lo pois sinto que ainda tenho muito que aprender.
Fico surpreendida como em partes diferentes do nosso território encontramos testemunhos tão semelhantes ao nosso. Eu não seria capaz de me expressar de forma tão clara e brilhante.
Obrigada pelo conforto!

margarida - デイジー disse...

Dr. Luis Jacob

penso que disse tudo o que nós nas direcções técnicas das IPSS sentem e passam. Também eu abri a minha instituição, sem experiência nenhuma nessa área, mas passados que estão estes dez anos, identifico-me com o que disse, quando ao ajudarmos tantas pessoas vemos o nosso tempo recompensado apesar das agruras que muitas vezes esse tempo nos traz. Os utentes são o nosso bem maior e quem recompensa tudo.
Quanto à questão que levantou sobre a exigência pela segurança social da nossa categoria e depois a mesma não ser contemplada na CCT, gostava de o ouvir falar mais sobre isso.

Um abraço amigo,

Teresa Henriques

anita disse...

Boa noite!
Claro que, em geral,nos identificamos completamente com as palavras do colega Luís; é, de facto uma "aventura" e até muitas vezes "perigosa" de tal forma que por vezes há quem desista de "remar contra a maré", quando nos sentimos completamente "prensados" entre a Direcção e os trabalhadores.É preciso ter uma boa estrutura emocional mas também não deixarmos de ser profissionais e defender sempre quem não tem quem os defenda, o "elo mais fraco", ou seja, os cidadãos, em geral,as crianças, as famílias, os idosos em particular.Se não são os Técnicos da nossa área do "social" e mais específicamente os assistentes sociais, quem o fará? É ao mesmo tempo um desafio, continuar a nossa luta na qualidade do atendimento e das respostas sociais para (e com)os nossos utentes/clientes.E, nada melhor que estarmos unidos nessa luta e poder partilhar as nossas angústias, as nossas preocupações. O Luís deu um bom mote para um importante tema que devería ser analisado, divulgado e que merecía uma ampla reflexão.Para os colegas do "social"...coragem nesta aventura.
Já agora, um Feliz Natal e que o Novo Ano nos traga esperança num mundo melhor e mais justo!Um abraço Ana Fátima

josemvcasaca disse...

Bom dia senhoras e senhores. Gostava de saber se existe diferença no funcionamente entre as IPSS(s) associativas e as da Igreja. É que já me disseram que a estrutura é diferente, devido aos estatutos serem também diferentes e que esse fato evidencia diferenciação de transparencia entre os 2 casos. Aguardo resposta, obrigado

Mónica Rolo disse...

Olá Dr. Depois de ler este e outros textos que tem publicado sobre sobre a realidade que se vive nas IPSS's no âmbito da tese de mestrado que estou a desenvolver sobre a Supervisão na Educação de Infância nas IPSS's, pergunto se não há nada concreto, na literatura disponível, relativamente às funções do Diretor Técnico. Se há uma obrigatoriedade em que todas as respostas socias tenham um DT, "ele" tem que aparecer em algum lado! Se me puder ajudar, agradeço...até aqui só tenho encontrado estudos que referem as mesmas conclusões que aqui sublinha mas sem fundamentação ou bibliografia que apoie as afirmações... Sugerem funções mas não referem as fontes!

Obrigada

monica.rolo@gmail.com

Mónica Rolo disse...

Encontrei! O Despacho Regulamentar 262/2011 (que revoga o Despacho Normativo n.º 96/89 de 21 de Outubro) refere as funções do diretor técnico...da creche. Aparentemente, para creche a designação correta é diretor técnico e, para pré-escolar, diretor pedagógico ou simplesmente diretor, conforme referido, por exemplo, no Decreto Legislativo Regional n. 25/94/M.
Já é alguma coisa...

Unknown disse...

Boa noite,
Podia dizer-me se para se ser diretor técnico é preciso ter tempo de serviço mínimo de 2 anos?
Obrigada!

Unknown disse...

Olá Dr. Luis

sou DT num lar lucrativo e gostaria se saber se existe tabela salarial, cuja a direção tenha que obrigatoriamente obedecer?

Unknown disse...

Olá Dr. Luis

sou DT num lar lucrativo e gostaria se saber se existe tabela salarial, cuja a direção tenha que obrigatoriamente obedecer?

Unknown disse...

Boa tarde. Sou educadora de infância de formação, mas como trabalho, exerço como técnica animadora de um Centro de Dia. Foi-me proposto ser a Directora técnica desta instituição. Quais as formações que posso tirar para completar a minha formação? Obrigado

Rosa Mateus disse...

Dr. Luís Jacob pedia-lhe o favor de me informar se numa IPSS, valência de CAFAP, é obrigatório ter Diretor técnico. Já pesquisei legislação e só encontro em ERPI. Grata

Rosa Mateus disse...

Dr. Luís Jacob pedia-lhe o favor de me informar se numa IPSS, valência de CAFAP, é obrigatório ter Diretor técnico. Já pesquisei legislação e só encontro em ERPI. Grata